quarta-feira, dezembro 31, 2008

Sol que não gira

Não importa o tamanho nem o brilho
quem gira é a Terra e são as flores

que costuram os dias com as mãos
que tecem estações e tecem anos
que resguardam todas as memórias
que dizem os segredos escondidos
nos bolsos, nas bainhas, nas gavetas
nos avessos coloridos das histórias.



sábado, dezembro 13, 2008

Dança(-me)

Dança-me no céu
dança-me na Lua
dança-me nas estrelas
é lá que eu sou tua

Dança-me uma dança
bem longe, ao relento
sem tectos paredes
chão: flocos de nuvem
chão: cristais de vento

Dança-me nas horas
mais frias do dia
dança-me naquelas
quentes de alegria

Dança-me sem freio
dança-me sem medo
dança-me ao peito
dança-me ao ouvido
dança-me em segredo.



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quarta-feira, dezembro 10, 2008

A cor mais quente?

Dizem que é fria
parece gelada
mas eu cá não acho
e tenho a certeza
tamanha beleza
todas as cores
nela misturada

nenhuma de fora
nem saliente
dão-lhe assim um tom
fofo de algodão
a cor mais quente:
refresca por fora
por dentro aquece
a coisa sem nome
que mora cá dentro
não se sabe onde
e que confundimos
com o coração.



sábado, novembro 29, 2008

Curvas alegres

Nem mesmo um desenho
desenhando
um desenho de mim
se esquece de traçar
o que faz mais falta
o que é mais preciso.

Espada numa mão, lápis na outra
a força só vem
se não te esquecer
se não me esquecer
de pintar com jeitinho
no meu retrato
as curvas alegres
de um sorriso.



domingo, novembro 23, 2008

Nenhuma diferença

Experimenta fechar os olhos
para veres o que eu vejo
sal na água das nuvens
borboletas navegando
céu no fundo do mar
sol em qualquer lado
tu seco ou molhado
e nenhuma diferença
entre voar e nadar



segunda-feira, novembro 17, 2008

Mão poema

Se eu pudesse
estendia o meu braço ramo
abria a minha mão flor
para além da janela
que me aproxima
sem corpo
até onde alguma tristeza
ainda houvesse
e com ela faria
gesto doce
beijo de dedos
enxugar de mares
ramo de alentos
sopro de segredos
perfumados.

Se eu pudesse seria fada
e a minha mão
tua companhia
ombro, viagem
tinta de sorrisos
luz acesa, chá quente
desejos pedidos
varinha de condão.

(Mas... é só poema
a minha mão.)



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sexta-feira, novembro 14, 2008

Silêncio

Subo ao cume do silêncio devagar
para não me escutar em dó
ser menos só
re_mar no avesso da maré
mi_mar fa_zer nascer outro sol
lá alto onde dizem que mora

Si_lêncio é
apenas mais um som

não é cor em ausência
escuro escondido
corpo esquecido.

Me deixassem e seria quase sempre em silêncio
noutra escala:
Dá, Ri, Meu, Faz, Sal, Lê, Sê, Dá
alto, muito alto
onde tudo é possível sem nenhum tabu
e ainda lhe acrescentava
Flor
Mar
Céu
e
Tu



sexta-feira, outubro 24, 2008

Distância

Não são as sereias
chamando lá longe
à distância de um mar

É esse silêncio
esse azul sem espuma
piano sem mão
que
mesmo assim distante
eu ouço tocar.



terça-feira, setembro 09, 2008

Não preciso

Não preciso de mão para te dar a mão
não preciso de sorrisos para te sorrir
não preciso de braços para te abraçar
não preciso de palavras para falar contigo
basta-me saber-te aí
voando num céu líquido
a escutar o que não digo

Não preciso de coisa alguma
só de ti.


quinta-feira, agosto 28, 2008

Ponto de nós

Dou a volta ao mundo
linha a linha
fio a fio
ponto por ponto
cruz, cheio, cadeia, matiz
espinha
pé-de-galo
pé-de-flor
regar
gosto de tecer
gosto de bordar
ponto de nós.

As voltas redondas
têm este fado
tu do meu lado
eu caminhando
sabendo sem fim
os caminhos cosidos
com a seda que nasce
por dentro de mim.


sexta-feira, agosto 22, 2008

Voar e cair

Soubera eu como voar em vez de cair
em ti, gota,

e nada mudaria

porque
ainda assim
depois de voar
liberta de fios
a seguir
vinha a saudade
e de novo
em ti
me afundaria.



quinta-feira, agosto 07, 2008

E...

E de repente
uma brisa
uma janela com flores
uma porta sem pressa
um beijo soprado
um beijo engolido
uma música
uma aragem lunar
uma onda de ir
um grito sussurrado
um rio de ficar
um tempo roubado
e mais flores,
violetas
azuis
vitrais
estrelas
outras cores
imaginadas
dançadas
nela

essa
perfeita
janela.

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domingo, julho 13, 2008

Domingo...

... acordar muito devagarinho
para fazer o Sol demorar no céu
para fazer a estrada mais longa
para esticar o tempo dentro do tempo
para usar mais sorrisos
para dizer nos ouvidos os verbos perfeitos
os verbos precisos
para adiar todos os fins
equilibrar os nãos os talvez os sins
para sossegar todos os bulícios
voar deslizando sem sair do lugar

amar, amar, amar, amar, amar
manter os olhos presos nos inícios.


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quarta-feira, julho 09, 2008

Sede(s)

Quando tenho sede
e o negro me afoga
és minha janela
bebo a tua luz
prendo-a sem pena
nunca a partilho
sou quem manda nela.

Quando no deserto
és tu a chorar
troco de lugar
abro as portas todas
sou lago, sou rio
luz branca e suave
bebes de uma vez
tudo o que te dou
o doce, o salgado
o certo, o pecado
o quente, o frio.

Até que, vazia,
regressa a escuridão
e numa roda viva
sou eu a pedir
tu deixas-te ir
estendes-me a luz
dás-me a tua mão.


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quinta-feira, julho 03, 2008

Correr devagar

Ponho o tempo a teus pés
para correr devagar
para ser sempre a primeira
veloz só na brincadeira
no caminho demorar
nos teus olhos me morrer
sem pressa de lá chegar.
Ponho o tempo a teus pés
porque sei que tu me levas
ao contrário do mar vento
num sonho, num pensamento
lua, estrela, céu de dentro
de feição contra a corrente
sem respeito pelas ondas
contrariando as marés
que nos querem empurrar.

Ponho o tempo a teus pés
porque és assim como és.


quinta-feira, junho 26, 2008

Seria...

Se eu fosse uma cor, seria da cor de voar.
Se eu fosse um animal, seria um animal de partir.
Se eu fosse uma coisa, seria uma coisa qualquer
leve.
Se eu fosse um azul, seria alto chapéu-de-chuva
sem tecto.
Seria sempre o teu sonho no ar.
Seria sempre o que há-de vir.
Seria pena na tua asa... haverias de me escrever
breve
suave.

Longe
caminho
estrela
doce
afecto.

Seria.


quinta-feira, junho 12, 2008

se eu soubesse como...

Se eu soubesse como
tecia uma teia
e depois enfeitava-a
como pudesse
gotas de chuva
lua aninhada
cerejas, morangos
pássaros azuis
estrela pequenina
rosa perfumada...
Conseguem ver
o que não se vê?

(Nós morando nela
só porque apetece
só porque sabe bem
sem saber porquê...)


sábado, junho 07, 2008

Pequeno problema

Anda cá, por favor
tenho um pequeno problema
não dou conta do recado
do sapato desatado
da teia que são
fios enovelados
ora um, ora outro, ora o mesmo
e eu sem saber bem
que nós não escutar
que nós desatar
anda cá, por favor
que só o amor
eu sei
me pode salvar
espalhar migalhas
"desperder-me" do mato
ajudar a atar
o fio desatado
do meu sapato...


domingo, junho 01, 2008

Azul que me flutua

Afogar-me-ia
com o peso da vida
a passear-se por cima de mim
como lhe apetece
sem me perguntar
posso?
se não fosses tu
esse azul que me flutua
como asa.

É caso para dizer
que não fica em cima
mas sim por baixo
o farol que me alumia
o verde que me respira
a rua azul da minha casa...


domingo, maio 18, 2008

Asteriscando o céu...


Muita semelhança
bonita diferença
asteriscando o céu de noite e de dia
regando lua só sua
que mais ninguém tem
igual
eles sabem bem
ponto, vírgula, teu, tua
mistérios, enigmas, magia
símbolo de pertença
(sinal de esperança?)


sexta-feira, maio 16, 2008

Paralelo longe

Letras para cá e para lá, mar, rio, ondas de palavras
lado a lado
sem se cruzar.
Há histórias assim
parecem distantes páginas diferentes
ensaiando laço
mas que se escrevem
mas que se desenham
em cada margem
desse paralelo longe
num livro só
num único abraço

sexta-feira, maio 09, 2008

Migalhas de estrelas

Falamos a mesma língua
tu e eu?
Ou é telepatia
forte sintonia
lua por madrinha
migalhas de estrelas
marcando o caminho
entre dois mundos
distantes, bem sei,
o teu e o meu?
Ou é um sonho
desses que temos
e que suspeitamos
só viver no céu?

terça-feira, maio 06, 2008

Cor de vitamina

Por que razão
me olhas assim
tão fixamente
como se não houvesse
mais Primavera
nem mais paisagem
para lá deste verde
que enfeitiçou
sem obrigação
varinha ou poção
de forma tão doce
de forma tão estranha
com encantamento
bom para a saúde
cor de vitamina
sumo de laranja?


domingo, maio 04, 2008

Chamo-lhe amor?

Não sei que lhe chame
ao olhar para ti
assim bem de frente
quando tu escolhes
esquecer o mundo
escutar as histórias
que quero contar
contar-me caminhos
que foram teus
quando tu decides
sem hesitar
esquecer-te do tempo
ter a minha cor
ficar por aqui
horas assim
folhinhas distantes
de mãos muitos dadas
sem se tocar...

...chamo-lhe amor?


sábado, maio 03, 2008

Se é sorrir, é sorrir...


Gato que lês sem ler
os livros na casa espalhados
tenta lá ler o que sinto
quando olho para ti
do fundo do meu sorriso
mesmo de olhos fechados.
Quisera eu ser assim
nesse sossego tão grande
sem prisões de consciência
de quem não recorda o antes
de quem não inventa um depois
de quem só conhece o presente
e nele aprendeu a estar:
se é dormir é dormir
se é comer é comer
se é brincar é brincar.



sábado, abril 26, 2008

Pinturas...

Gosto de ir mudando a cor das minhas asas.
Uso tinta ecológica
que desaparece
se dilui em água
e me escapa
sem eu prever
desculpando-me
por cada poema novo
nova combinação de palavras
com alteração meteorológica

que ponha o céu
a chover.

Sim. Eu sei.
Hoje não choveu. Não tenho desculpa.
Mas gosto de sentir que o destino
é coisa que se pinta como se deseja
em tela que é sempre a mesma
parede de todas as casas
mesmo que à vista as cores pareçam iguais
mesmo que ninguém perceba
mesmo que ninguém (te) veja
repintando as minhas asas.


um verde na lua

Podem não acreditar
porque é um segredo
e os segredos
não deviam ser
para partilhar...

Podem não acreditar
mas está lá que eu sei
mesmo que os astronautas digam que não
e os cientistas não digam que sim
é que eles não olharam bem
escolheram mal o que sonhar
olharam para outros lados
olhos fechados
confiem em mim
tem água a correr
frescura de bosque
aves voando
pirilampos quentes
fogo no ar...

Se um dia forem para aqueles lados
e tudo vos parecer escuro
procurem
por dentro

bem disfarçado
um botão secreto
(onde foi que o puz?)
acende sem medo
deixa iluminado
esse segredo
recanto perdido
jardim escondido
essa verde luz...

segunda-feira, abril 21, 2008

Espelho



Eu vejo tantas coisas
quando olho para ti...

Que coisas?

Vejo tantas estradas
tantos caminhos
tantos fios
fumos, nevoeiros
densos e leves
labirintos breves
entradas, saídas
ruas
viagens
paragens

mãos
minhas
tuas.

Eu vejo

vejo tão bem
verde a despontar no azul
azul cobrindo o vermelho
quando olho para ti
e sorris o meu sorriso

vestes o meu corpo
do outro lado do espelho.



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terça-feira, abril 15, 2008

Olhar pescador

Quando de repente alguém pára
repara
olha
deixamos de ser
só mais um
para passarmos a ser
o ...

Algum cuidado
alguma ternura
alguma atenção
e
mesmo sabendo nadar
corremos sempre o risco
de nos perdermos
de nos afogarmos
de nos morrermos
nesse
intenso
pescador
olhar.


domingo, abril 13, 2008

Distâncias de nada

Há distâncias que são nada
coisa alguma.
Fios invisíveis
prendem a Terra à Lua
entre si os planetas
estes às estrelas.
Portanto
não é magia:
tu não estás
e, todavia,
dás-me a mão
beijas-me
e eu consigo vê-las...


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quinta-feira, abril 10, 2008

Tens a certeza?

Um dragão?
Não.
Um vulcão?
Não.
De certeza?
Sim.

Um cordeirinho, montanha verde
pedacinho de neve, nuvem, algodão
suave, leve, flor flutuando

Um dragão?
Já disse que não.
Um vulcão?
Já disse que não!

Tens a certeza?
É que vejo ali
uma fresta de luz
calor a escapar
pequenina chama
brilho mal escondido...

Não vês nada!

(Vou a correr
buscar balde d’água
regresso com pressa
figura apagada.)


terça-feira, abril 08, 2008

Sons com asas

Não, não está presa a lado nenhum
a música que escuto
quando uma ave me canta
pela manhã
sem pressa
pousada
aninhada
nos meus ouvidos.

É um segredo nosso:
há sons com asas
há asas com cheiros
cheiros com sabores
sabores com dedos
dedos com olhos
que ficam escondidos.


sábado, abril 05, 2008

O sonho é meu...

Quero, porque quero
que sejas só minha
levo-te comigo
p'ra outro lugar.

Tanto me faz
(nem quero saber)
que o mundo reclame
falta de luar
o sonho é meu
fui eu que o sonhei
e nele a lua fica
exactamente onde
eu decidir
que ela vai ficar.



quinta-feira, abril 03, 2008

da Terra ao sonho


dizes:

vai só um passinho
da Terra ao sonho

vai só um passinho
da Terra ao luar

se ficares quieta
se não caminhares
não acredites
que se desprende
cai na tua mão
ou te vem buscar

vai só um passinho
da Terra ao sonho

vai só um passinho
da Terra ao luar

(corto estes fios
desato estes nós
sacudo o que pesa
descubro umas asas
embarco em ti
e vou viajar...)

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sábado, março 29, 2008

Pas de deux...


Somos, não somos?
Tão parecidos...
Olhos com sonhos
sedes de alto
caminhando em pontas
voando na noite
a meio caminho
na escada do céu
procurando na lua
alguma magia
palavras de seda
bailados de branco
música invisível
serena alegria
um porto de abrigo
adivinhando sem ver
só pelo sabor
a cor de um amigo
desses que parece
que já era nosso
antes de o ser
e que depois sobe
por nós acima
se aninha por dentro
nos conta segredos
nos escuta as histórias
nos dá mil ouvidos...

Somos não somos?
Tão parecidos...


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quinta-feira, março 27, 2008

Teia


não sei se ramos raízes sabores se sons
se aves se fios tristezas se voos memórias
se lembranças retratos se palavras segredos
se desenhos segundos minutos se livros
se folhas se luas bonecas se músicas  lágrimas
se cantos se contos fadas cadernos se voos
se poemas  sorrisos se gente se histórias
se desejos se encantos sonhos se estradas se asas
não sei
chamo-lhe teia
(digo que é minha)


quinta-feira, março 20, 2008

O invisível?

Eu não sei de onde não vem a luz
por isso procuro
razões
explicações
escondida mão
que desenha

apenas
aquilo que é, aquilo que há.


O invisível é sem perguntas
é sem porquês o não.

Então, mais simples assim:
imaginar apenas
os segredos da luz

as razões do sim.

terça-feira, março 18, 2008

Diferenças?

São assim aquelas coisas que se juntas
adicionadas
entrelaçadas
compostas
conversadas
de forma suave
ou mais dura
fazem melhores perguntas
conseguem melhores respostas
aumentam a nossa altura...


domingo, março 16, 2008

Pés na lua...

Apenas isto:
vou agora descansar o meu cansaço
pés na lua, trincando uma estrela.

Não, não é sequer um sonho
uma invenção, um desenho
estou bem acordada.
Tão pouco é devaneio
fuga,
viagem, distância
não tem qualquer importância
não é sequer um anseio

o que não tenho
e queria ter.

É só um poema
apenas mais um
que ainda não estava escrito
e me apeteceu escrever.



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domingo, fevereiro 24, 2008

Sabor a asa

Sabem o sabor que me sabe melhor e de que gosto mais?
Mais do que o sabor a cereja, o sabor a morango, o sabor de gelado?
Mais do que o sabor a brinquedo, o sabor a segredo, o sabor a nuvem, o sabor a amor, o sabor

inesperado?
Mais do que o sabor a verde, o sabor a azul, o sabor a sol, o sabor a lar, o sabor a casa?
Sabem?

O sabor a asa...

sábado, fevereiro 23, 2008

Falta de cor

As minhas palavras foram à procura de um desenho novo para mudarem de casa.
Não havia.
Em desespero, as minhas palavras bateram a todas as portas para sair.
Cadeado.
As minhas palavras quase asfixiaram com falta de cor.

Fui eu.
Fui eu quem esqueceu a chave num canto qualquer sem acreditar
que as minhas palavras, mesmo sem música, mesmo sem vento,

mesmo sem pinturas
conseguem bailar.

domingo, fevereiro 17, 2008

Eu sou aquela

Eu sou aquela
(conseguem ver?)
aquela de verde
a pintar futuros
tudo menos escuros
aquela amarela
mais longe do chão
mais perto de estrela
aquela algures
entre rosa e lilás
que vai atrás de ti
está onde tu estás
aquela laranja
cheia de sabor
que se deixa ficar
apenas distraída
a saborear
aquela vermelha
que luta e insiste
sopra vento forte
agarra-se bem
nunca desiste
aquela azul
parada a sonhar
com asas maiores
que a levem p'lo ar

Eu sou aquela...
(conseguem ver?)


Eu sou todas?
Não pode ser...


Fome

Primeiro linhas, sinais, letras, palavras
fome imensa
intensa
um copo de água
esperar que se misturem, dissolvam, dancem
o tempo certo
e depois
o papel deixa de ser deserto
regressam esquecidas
desconhecidas de mãos dadas
amigas separadas.

Olhando para elas assim brincando
saltando à corda
sem nós
dou-lhes o nome poema
dou-lhes o nome que me apetecer dar
(parecem não se importar).

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sábado, fevereiro 09, 2008

Não pode ser tudo

Fui-me chegando a ti quase sem querer
mas era magia e a magia faz-nos fazer as coisas que não queremos fazer
não era o tempo, não havia tempo, não era o destino, não era a hora
e tu chamando em tons suaves, o orvalho pedindo: tem de ser agora
e fui-me chegando, convite aceite, também convidando esse teu olhar
descobrindo-te ondas, branco a imaginar-se um azul de mar
e eu quase a entrar tão perto da alma procurando perfume, procurando calma
já toda enredada em poesia e prosa para descobrir o que já sabia
que a cor prometia, mas que não trazia o perfume da rosa.
Parti sem tristeza, que a beleza é assim,
não pode ser tudo, nunca é completa, nunca é inteira
tu sem aroma, toque su_ave, convidando à paz
rosa inebriando mas ferindo as mãos de quem a leva
de quem a segura
de quem a deseja
de quem a traz



Azalea - foto close-up trabalhada (by me)
com efeito crayon em Corel PHOTO-PAINT X3

domingo, janeiro 27, 2008

Campo de estrelas

Mesmo que não queiram, semearei e regarei o meu campo de estrelas. Cuidarei das flores com ternura e sorrisos, afagarei todos os sonhos delas. Foi promessa que lhes fiz, que lhes faço, que qualquer um dos meus gestos diz. Se insistirem em desviar-me o olhar, a atenção, se tentarem agarrar a minha mão, eu encontrarei sempre mais pés para escapar, saltar cercas, atravessar grades e regressar ao meu campo de estrelas. Não se atrevam nunca a dizer-me que o meu destino é esquecê-las. Eu não as conto, eu não lhes traço as viagens, eu não lhes estreito as margens, eu não lhes digo que recanto do céu lhes serve melhor. O meu destino é não lhes impor destino, não prometer azul maior, é partilhar o mundo, acalmar a dor, segredar-lhes com carinho: encontra as tuas asas, com estas ferramentas e as que criares, com as tuas perguntas, faz o teu caminho.
Mesmo que não queiram, que me tentem impedir, vão perceber um dia que a força de um jardineiro, mesmo que esteja sozinho, não pode ser calculada, não pode ser controlada, ninguém a pode medir.
.

domingo, janeiro 06, 2008

Sem floresta...

Também gosto
de um certo silêncio
uma certa paz
um certo sossego
algum vazio
espaço aberto
que dá aconchego
para respirar
e não lhe chamar
nunca solidão
é outra forma
de me celebrar
de me passear
de mesmo sem gente
fazer uma festa
porque gosto
tantas vezes gosto
de ficar assim
apenas assim
de ser assim árvore
sem ter floresta.