quarta-feira, dezembro 23, 2009

Silêncios

Há páginas
cheias de silêncios
por dentro
por fora
à janela
distantes
perdidas
esperando
(procurando?)
na sombra
de um qualquer luar
no breu
uma letra
uma palavra
o poema preciso
uma flor
calor
essa quase luz
sem corpo
sem braços
sem folhas

sem voz
tu?
eu?

nós?



domingo, dezembro 20, 2009

Definição (desejo de?)

Natal devia ser coisa comprida e alongada
esguia
Natal devia ser coisa redonda e grande
cheia
assim uma espécie de infinita e completa magia
não coisa meia
coisa quarta
coisa quase milésima
de cada dia.

Natal
(se eu mandasse no dicionário
das coisas a precisar de re_definição)
teria sabor, cheiro e forma de seta
aninhada sem fuga no colo-coração.



sexta-feira, dezembro 18, 2009

Carta

Querido Pai Natal
dá-me um regador
dá-me umas asas de borboleta
de beija-flor, de colibri
dá-me um vestido
de framboesa
uns sapatinhos de fada-princesa
que eu portei-me bem
e nunca mereci nem meio castigo.
.
Prometo ir contigo
pelo céu fora
semear luz em qualquer lugar
a qualquer hora
a ver se consigo
que algumas raízes se despeçam do chão
e descubram uns pés para dançar.
.
Querido Pai Natal
dá-me mais um sonho
só um sonho mais
que eu gosto de ter a gaveta cheia
para nunca faltar
nem um sonho que seja
que me levante e empurre
(mesmo que eu não queira)
e me leve inteira
de mão dada com ele
a navegar...

sábado, dezembro 05, 2009

Divisão inteira

Sabes,
não sou só esta
não sou só esta assim
não sou só esta assim como se não houvesse mais nenhuma
Sabes,
aqui dentro
aqui dentro de mim
aqui dentro de mim há mais uma
ou mais
ou menos.
Vírgula.
Reparto-me, parto-me, quebro-me
divido-me,
multiplico-me, adiciono-me
mesmo quando penso ser inteira
o todo, o tudo
como se não ser
fosse um mal
doença grave
espécie de enfermidade decimal.(Terminal?)
Contudo, sabes,
não sei viver sem operações cirúrgicas
precisas
divisões sucessivas

quase infinitas

nunca encontrando coisa irredutível
que me seja igual.

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domingo, novembro 29, 2009

Quanto basta

Quando às vezes estou quase quase mesmo a
esquecer

quem eras, porque eras, onde estás
e a memória tenta fechar janelas
contra a chuva e contra o vento
apagar com borracha de tinta
o lamento
fazer silêncio da música que toca dentro dela
onde quer que nela vás
chega uma palavra qualquer
uma só e é quanto basta
na lareira da esperança
para limpar a tristeza
crepitar, apagar silêncios
para avivar a lembrança
como se fosse o Natal
de que perdemos o rasto
e regressa ano a ano
com ideia de ir embora
mal a gente se habitue
ao sabor a mel e canela
das prendas que nascem na árvore
mas só durem o tempo de agora
se deitem depressa fora
como fruta que envelhece
longe da seiva dela.

sábado, novembro 14, 2009

Agora eu era...

(Agora eu era o herói
e o meu cavalo só falava inglês...
C. Buarque)

Agora eu era lenta com asas de mar
e nadava como se voasse nas nuvens do ar.

Agora eu deslizava, su_ave, sossegada
e caminhava os caminhos sem pressa de nada.

Agora eu era outra, embora fosse eu
e o meu oceano já podia ser céu.

Agora eu já podia ser uma princesa
vestir um vestido, bailar com leveza
pedir ao tempo que esperasse por mim
e esperar por ele um tempo sem fim.

E agora sem correr podias encontrar-me
encostar-me à Lua e até beijar-me.

Agora eu era aquela que é como pode
que é como sabe, que é como deve
(tornado sonhando ser floco de neve).

sábado, outubro 31, 2009

Cogumelos verdes

Façamos de conta que
é noite
a minha teia e a tua
opostas
distantes...
Imaginemos um monte entre elas
e sobre ele cogumelos verdes
enormes
acesos
como lua
como dantes
a fazer de rua entre ti e mim
fios invisíveis
assim, setas no chão
para cá e para lá
soltos e, também,
subtilmente
presos.
Sorrirás. Dirás que imagino.
Que não há cogumelos verdes
velas
maiores do que nós.

Mas eu sei que sim
porque os vi
no exacto segundo em que apagaste a luz
varreste as migalhas
do caminho

e a noite enrouqueceu

lentamente
até perder a voz.


sexta-feira, outubro 23, 2009

Cores do mel

No meu jardim de segredos
onde há fadas que são flores
nascem as cores do mel
rebuçados sem papel
beijos soprados ao vento
que gosto de dividir
que gosto de te oferecer
sempre que a solidão teima
sempre que o sal te queima
te escurece, te afoga
te rouba e te subtrai
te leva
te faz perder
a vontade de sorrir.


sexta-feira, outubro 16, 2009

O olhar engana...

Ama-me assim mesmo
gata preta grande
vadia, sozinha
pêlo desgrenhado
que pica na mão
bruxa feia e escura
feiticeira louca
noite sem dia
aranha malvada
morcega vampira
na boca só não
rabugenta e má
sem sinal de mel
toda desgrenhada
é o que se vê
é o que tens
parece até
que é o que há...

Ama-me assim mesmo
que tu sabes bem
o olhar engana
cá dentro do breu
sou astro de seda
luz clara, macia
bela, elegante
perfeita ou quase
para um gato só
desses que vagueia
pela Lua cheia
que vê a princesa
que sabe da fada
que sabe da luz
que sabe o sorriso
que sabe o segredo
escondido no peito
da bruxa, da gata
louca feiticeira
morcega, vampira
da aranha e da teia.


segunda-feira, setembro 28, 2009

Uma solidão que se desenha


Desenhemos uma solidão
parcial:
tu não estás
(não sei se existes
se te inventei)
tu não cantas
(não sei se cantavas
se imaginei)
tu tão invisível
(não sei se te via
se só sonhei).

Cai uma espécie de silêncio branco
no Verão azul
noite iluminada
sossegada
que sou.

Desenhemos uma solidão
completa:
se te atrasares
um minuto mais
banco de jardim
frio
vazio
já nem eu lá estou.


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sábado, setembro 19, 2009

Singular de nós...

A verdade é esta:
cada um de nós é sempre
pelo menos dois.

À noite
só a lua é uma
só o lume é um
a floresta escondida
em silêncio tecida
plural de árvores e sombras
sozinha também.

E estamos sempre os quatro
juntos
fingindo um par
como se fosse possível
algum dia
sermos
só tu e só eu
singular de nós
e mais ninguém.


quarta-feira, setembro 02, 2009

Se eu... tu também...

Se eu fosse outro animal
de certeza que seria
suave, redondo, macio
calado, radar, atento
cinzento, claro, bonito
de certeza que teria
olhos de engolir mundo
olhos de beber sonhos
nariz curto e perfeito
pintas, bigodes, segredos
muitas imensas coragens
poucos ou nenhuns medos.

Não queria solidão
nem caminhos sem ruído
estradas pretas e despidas
nuas, vazias, compridas
por onde passasse a correr.

Se eu fosse outro animal
(e não me digas que não)
tu também tinhas de ser.


segunda-feira, agosto 24, 2009

Beijo-flor?

Nos dias frios
amargos
distantes
escuros

polvilhados com sal e solidão
quando acreditas que voas
e me escapas

e já não queres
nem a boca nem a mão
disfarço-me
outra forma
outro cheiro
outra cor
e sem saberes
(mesmo) sem quereres
é a mim que beijas
só a mim
(sempre)
e nunca à flor.



terça-feira, agosto 18, 2009

Não deixo

Há um palácio assim
quase impossível
encantado
num recanto congelado
de um coração tão cheio
que parece não ter espaço
mas que, sei, teria
se eu deixasse
só para mais um beijo
só para mais um abraço.

Não podes lá entrar
não deixo
porque, eu sei,
que o Verão quente
(que vem contigo)
o derretia.



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sexta-feira, agosto 07, 2009

Não há...

Não és um Sol qualquer
não há planeta
não há bola de brincar
não há coisa alguma
que
te roube pedaço de luz
te afaste dos meus olhos
te consiga apagar.

Posso procurar outra solução
experimentar
alternativa de eclipse
para não te ver:
virar-me de costas
óculos bem escuros
chapéu de abas largas
num quarto fechado
com zero janelas...

mas duvido, ainda assim,
que isso dê resultado em mim
e te consiga
esquecer.



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segunda-feira, julho 27, 2009

De pernas para o ar

Não sei se foste tu
se foi o vento
as ondas do mar
mas sei que sabe bem
de vez em quando
sair pela porta de entrada
dar uma resposta errada
escrever o mundo inteiro
de pernas para o ar.


quarta-feira, julho 22, 2009

Não aprendi...

Serei do tamanho que tiver de ser
da altura que
precisares

flor
dentro de ti
grande, pequena, assim-assim
és quem escolhe
define, escreve

pinta com desejo
o papel para mim.


Se
(quando)
folha vazia
pétala sem cheiro
nenhuma fala
zero palavras
para conversar

o papel for nada
não te fizer falta...
... preciso confessar
não aprendi ainda
na escola das fadas
essa magia
de subir o rio
de conseguir
(depois de apagada)

retecer o fio
desapagar-me

e regressar.



sábado, julho 18, 2009

Segunda magia

Era arco-íris
pintado no céu
bebi um feitiço
com vento e com asas
e agora
quase sei
como se voa
embora com medo
confesso em segredo
do espaço
das quedas
da liberdade
e do amor
que às vezes magoa.

Ainda
preciso de mais uma fada
e outra feiticeira
uma magia
em pó ou bebida
fórmula certeira
para largar os fios
caminhos
seguros
colos e redes
mãos agarradas
prisão de cristal
com que voo a vida.


terça-feira, julho 14, 2009

Os príncipes

Têm muitas formas, os príncipes
os seus cavalos também
trazem sempre flores, beijos, chocolates

dedicam poemas, oferecem canções
despertam nas amadas galáxia de emoções
saudade, calor, lágrima, euforia
tristeza, fome, sede, alegria...
e aportam do mar, chegam por terra, descem do céu.

Aquele que tem a forma mais bonita
e o cavalo a condizer

(conseguem ver?)
é o meu.



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terça-feira, junho 30, 2009

Longe é um silêncio

Longe é um acorde que não escuto
canções que nunca são minhas
melodias fugindo em sentido oposto
depositadas em mãos sem rosto
janela colada, porta surda e cega
estrelas sem brilho por falta de rega
planeta distante, oceano sem lua

Longe é um silêncio que sussurra
cada nota alta que devia ser minha
como se fosse apenas uma pausa tua.


domingo, junho 28, 2009

Inapagável

Mesmo que alguém tente
apagar devagarinho
todos os traços de mim
até me tornar invisível
inexacta, inexistente
impossível, transparente
não me leva o espanto
inquilino do olhar
(que é só do que preciso)
nem arranca ou extermina
esse meu inapagável
e infinito sorriso.





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sexta-feira, junho 26, 2009

Dia meu

Nos dias em que o dia se esquece de vir à janela
e a noite aproveita para não ir embora
acendo cada girassol como se fosse uma vela
sopro o teu nome beijo em direcção ao céu
abraço e apago docemente cada estrela
(não me importa o tempo que demora)
e dentro da noite escura faço um dia meu.

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segunda-feira, junho 22, 2009

Noite minha

Tenho uma noite só minha
chega sempre que eu quero
basta-me estender a mão
ela não me diz que não
cabe em mim mesmo à medida
com lua estrelas e sombra
mimos, canção de embalar
história para adormecer
sonhos de todas as cores
a qualquer hora do dia.

Não preciso de saber
se são horas de almoçar
quantas horas já se foram
quantas horas inda há
a minha noite é só minha
(também tua, se quiseres)
tem flores que nunca dormem
e onde eu estou ela está.




Regresso (Sonhado) II

Sonhei que ias chegar
arrancar de ti
essa armadura
arejei o castelo
limpei as teias
sacudi o pó
ao lume há surpresa
adivinho flores
jarra sobre a mesa

toalha de linho
já cheira a café

fossem todas as coisas tão simples
como cada regresso sonhado é.

Sonhei que ias chegar
leve
sem peso de mala
abri todas as janelas
apaguei a luz
escondi o mar
adivinho beijos
perfume de lua
e nós dois a dançar
ao sabor da maré

fossem todas as coisas tão simples
como cada regresso sonhado é.


sexta-feira, junho 12, 2009

Regresso (sonhado)

Sonhei que ias chegar
arrancar de ti
essa armadura
arejei o castelo
limpei as teias
sacudi o pó
ao lume há surpresa
adivinho flores
jarra sobre a mesa

toalha de linho
já cheira a café

fossem todas as coisas tão simples
como cada regresso sonhado é.


quarta-feira, maio 20, 2009

Sonho sem querer

Tenho raízes com pés e pés com raízes
e caminho ou não caminho conforme decidir
que quero ou não quero ir ou não ir
ficar, navegar, parar ou partir.

Tenho pesos com asas e asas com pesos
e voo ou não voo conforme acreditar
que é bom ou não é bom deixar-me levar

Tenho sonhos na alma e alma com sonhos
e por mais que tente não consigo evitar
não sou eu que mando, não a sei controlar
a alma não escuta nada do que digo
sonho sem saber, sonho sem querer
castelos, palácios, valsas ao luar
e se no teu sonho não me queres a mim
sonho mesmo assim
passeios solitários, mão dada comigo.


domingo, abril 26, 2009

Tempero de sonho


Gosto da ausência de ti
na refeição da vida
da sede
da fome
que o tempo acrescenta
depois da partida.

Ter-te ausente

é dar-te a mão com outro eu
que sabe navegar
invisível mar
sem precisar de caravela
entre planeta e estrela.

Amargo seria
não existires,
nem longe, nem distante

e nem por um instante
arrumar as letras saudade
nesse fio, colar de contas
espécie de rio
e pô-lo ao peito.

Solidão é só

não ter sonhos
com cheiro a canela
açúcar queimado
para polvilhar
o caminho
arroz-doce
leite-creme
prato cheio
azul

infinito
do céu de cada dia.



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quinta-feira, abril 02, 2009

Regar...

Rego tudo bem regado
horas, minutos, segundos
pessoas, bichos e flores
ideias, palavras, histórias
sabores, aromas, memórias
a ver se no jardim nasce
companhia para o caminho:
um berço, um colo, um abraço
uma lua, um piano, um regaço
um livro, um poema, um palácio
um ouvido, um beijo, um carinho
um canto, uma dança, uma voz
que se deixe aqui ficar
goste de me ver regar
e não deseje partir...

... que eu tenho pés de sereia
asas de joaninha
sonhos de borboleta
olhos de ver ao longe
o mundo na minha cabeça
mas gosto do meu jardim
e não lhe consigo fugir.


sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Invisibilidade

Sem olhar
sem palavras
sem lua
cada vez
mais
pe
que
ni
na
como se uma borracha
me fosse apagando aos poucos
sem carta ou sorriso
para ver

de que nenhum tamanho
eu posso chegar a ser
algum dia
quando o retrato
ou memória
de mim
finalmente
não for
nem
necessário
nem
preciso.



sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Subtil evidência

Em sonhos cor-de-rosa azuis imaginamos
que o tempo tem mais tempo do que tem
que as mãos têm mais dedos do que cem
que a música toca sempre a toda a hora
que nunca ninguém parte ou vai embora
que as flores não deixam de ser regadas
que as mãos estão sempre entrelaçadas

e às vezes a seguir quando acordamos
é tudo quase exactamente igual ao que sonhamos
com mais chuva
menos flores
e a subtil evidência
de um nós tecido
sem mãos
sem fios
na ausência.



sábado, janeiro 31, 2009

Caixinha(s) de música

Sou somos seremos sempre
casas grutas caixinhas de música
sozinhas com corda sem corda
tocando de dia de tarde de noite
ao sol ao vento ao luar
como se estar existir viver
fosse doesse soasse
a canção fado melodia
grito aceno chamamento
até que
pessoa cavaleiro princesa
resto perfeito da sinfonia
chegasse entrasse existisse
em vez de
simplesmente só apenas
ser sonho do pensamento.




domingo, janeiro 18, 2009

Devagar

Corre devagar que o tempo precisa de ser precisamente quase caracol para ser completamente nosso e se conseguir desvendar para ver nitidamente as coisas da janela sem chegar depois uma saudade sem regresso possível que esteja ali à mão de semear porque é devagar que o gelado se aquece na boca devagar que o amor se vagueia devagar que o saber se ilumina devagar que a vida se passeia sem pressa mão furtiva dada beijo imaginado roubado elevador para a lua sonhos que se inventam princesas sempre belas cavaleiros calmamente andantes perto delas porque devagar é assim palavra mágica para longe e melhor e mais saboroso diz quem não se engana quase nunca e eu digo também que devagar é arte de navegar cada grão de açúcar no ponto adequado devagar bem devagar paciência até morar para sempre caminhando levemente na estrada de um ponto de pérola e de rebuçado.




domingo, janeiro 11, 2009

Sem fronteiras

que desertos? que longes? que espaços abertos?
que nome? que som? que forma? que cor?
que distância certa? tradução exacta
das letras em fila escrevendo-se amor?
rascunho acabado perfeito imperfeito completo incompleto
lápis-de-cor óleo aguarela
palavra sem rédeas no dicionário
pode ser corpo pode ser tranquilo pode ser asa
mais do que um
cartas enviadas tantas as maneiras
flor e mil abelhas dança no azul
lua teia terra
ave com destinos ave sossegada
casa fechadura ninho com janela
entrar sem forçar sem resistir
sentir sem pesar
sentir sem esconder
sentir sem fronteiras