domingo, novembro 29, 2009

Quanto basta

Quando às vezes estou quase quase mesmo a
esquecer

quem eras, porque eras, onde estás
e a memória tenta fechar janelas
contra a chuva e contra o vento
apagar com borracha de tinta
o lamento
fazer silêncio da música que toca dentro dela
onde quer que nela vás
chega uma palavra qualquer
uma só e é quanto basta
na lareira da esperança
para limpar a tristeza
crepitar, apagar silêncios
para avivar a lembrança
como se fosse o Natal
de que perdemos o rasto
e regressa ano a ano
com ideia de ir embora
mal a gente se habitue
ao sabor a mel e canela
das prendas que nascem na árvore
mas só durem o tempo de agora
se deitem depressa fora
como fruta que envelhece
longe da seiva dela.

sábado, novembro 14, 2009

Agora eu era...

(Agora eu era o herói
e o meu cavalo só falava inglês...
C. Buarque)

Agora eu era lenta com asas de mar
e nadava como se voasse nas nuvens do ar.

Agora eu deslizava, su_ave, sossegada
e caminhava os caminhos sem pressa de nada.

Agora eu era outra, embora fosse eu
e o meu oceano já podia ser céu.

Agora eu já podia ser uma princesa
vestir um vestido, bailar com leveza
pedir ao tempo que esperasse por mim
e esperar por ele um tempo sem fim.

E agora sem correr podias encontrar-me
encostar-me à Lua e até beijar-me.

Agora eu era aquela que é como pode
que é como sabe, que é como deve
(tornado sonhando ser floco de neve).