segunda-feira, setembro 28, 2009

Uma solidão que se desenha


Desenhemos uma solidão
parcial:
tu não estás
(não sei se existes
se te inventei)
tu não cantas
(não sei se cantavas
se imaginei)
tu tão invisível
(não sei se te via
se só sonhei).

Cai uma espécie de silêncio branco
no Verão azul
noite iluminada
sossegada
que sou.

Desenhemos uma solidão
completa:
se te atrasares
um minuto mais
banco de jardim
frio
vazio
já nem eu lá estou.


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sábado, setembro 19, 2009

Singular de nós...

A verdade é esta:
cada um de nós é sempre
pelo menos dois.

À noite
só a lua é uma
só o lume é um
a floresta escondida
em silêncio tecida
plural de árvores e sombras
sozinha também.

E estamos sempre os quatro
juntos
fingindo um par
como se fosse possível
algum dia
sermos
só tu e só eu
singular de nós
e mais ninguém.


quarta-feira, setembro 02, 2009

Se eu... tu também...

Se eu fosse outro animal
de certeza que seria
suave, redondo, macio
calado, radar, atento
cinzento, claro, bonito
de certeza que teria
olhos de engolir mundo
olhos de beber sonhos
nariz curto e perfeito
pintas, bigodes, segredos
muitas imensas coragens
poucos ou nenhuns medos.

Não queria solidão
nem caminhos sem ruído
estradas pretas e despidas
nuas, vazias, compridas
por onde passasse a correr.

Se eu fosse outro animal
(e não me digas que não)
tu também tinhas de ser.