sábado, dezembro 29, 2007

domingo, dezembro 16, 2007

Lado a lado...


Se eu fosse um elefante
um elefante quadrado
não ficaria contente
não me seria indiferente
poder ser arrumado
devidamente encaixado
no geométrico fado.

Se eu fosse um elefante
um elefante quadrado
tentaria a qualquer custo
ser depressa arredondado
ao menos em três das linhas
deixava uma, deixava
para poder aninhar-me
colar-me sem ter vazios
me encostar a(o) teu lado.


quinta-feira, outubro 25, 2007

Ferramenta de mim?

Sou quem quero
escrevo o texto da fala
falo o texto da escrita
se quiser
pinto a cor que apetece agora
e depois
despinto, repinto
noutra hora
e corto, recorto
não me importo
aumento, reduzo
amplio-me no pormenor
afasto-me se me souber de cor
desloco-me, enquadro-me
distorço, endireito
mudar é bom
de preceito, de forma, de tom.

Ferramenta de mim
exactamente assim.


Sou quem quero
quero quem sou
e nunca deixar de me ver
ou ficar invisível
mesmo que imagine
que alguém me apagou.


sexta-feira, outubro 05, 2007

De outro mundo...


Não sou deste mundo.
Sinto às vezes em mim mais mãos, mais pernas,
mais asas
mais dedos, mais olhos, mais sonhos
mais desejos, mais braços, mais eus, mais bocas.

Para não dizer que sou louca(s)
digo só assim
(com mais sóis, mais luas, mais céus em fundo):
não sou daqui
sou de outro mundo.

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terça-feira, outubro 02, 2007

Feminino cofre

Na mais alta prateleira
fechado
um livro claro
sem escada
que o respire.

Sim.

Na mais alta prateleira
uma luz escondida
na sombra
de outra luz.

Apetece...
um caminho até ela.

Na mais alta prateleira
a certeza:
livro é feminino
cofre
segredo
concha proibida.

Soubera alguém a palavra
chave
que
me encontrara
(ilha escondida).




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quarta-feira, agosto 29, 2007

Um não sei quê

Há nesta nossa espécie de leve leveza
um não sei quê de algodão
de aragem, de folha
de pena, de ave
de música azul
de desejo
de fuga
inverso
de chão.



segunda-feira, agosto 20, 2007

Ser outra vez?

Digo de mim:
não sei se nova se velha se assim-assim
se princípio se meio se fim
se escorrego se o sigo se caminho
se me empurra se o bebo se lhe fujo

Pergunto:
que ventre lhe vai dando luz
parto infinito?

Luta desigual.
Acabarei por ir partir terminar
sem era outra vez...

Ele
(invejo-o?)
vai continuar.





segunda-feira, agosto 13, 2007

Sementes de asas

Semente já não quero que seja
futuro de chão preso.
Semente não quero que cheire
a erva daninha
joelhos no chão.
Semente
agora
só se for coisa de ar
coisa de voar
coisa de música sem corpo
de ventos sem norte
entregues a qualquer sorte
janelas sem casas.

Sementes de asas.


sábado, julho 14, 2007

Coser e descoser

Coso pontos que me prendem a tudo
que prendem tudo a tudo
com fortes linhas
sem ajuda
sem instruções
sem outras mãos
que não as minhas
perita.


Por vezes,
uma certa falta de ar
uma certa falta de luz

a precisar

de
aos poucos
me descoser
com as mesmas mãos com que me cosi
e ir passear.






quinta-feira, julho 05, 2007

Asas e tudo

É um cavalinho
feito de papel
relincha a fingir
e nunca galopa
mora num desenho
guardado em gaveta
este meu corcel.

É um cavalinho
feito de madeira
não me leva longe
só finge que voa
promete viagens
promete-me o céu
e é só brincadeira.

Era um cavalinho
daqueles a sério
com asas e tudo
de osso e de carne
que eu queria
para ver se ia

de nuvem em nuvem
em busca da chave
em busca da porta

e depois fugia...


segunda-feira, julho 02, 2007

Terra longe

Desvendo o caminho
à medida que caminho
que persigo
essa terra longe
esse destino não escrito
não
dito.

Desembaraço as teias
separo os fios devagar
com vagar
e no final de cada
um
repousa sempre
uma resposta
a precisar de perguntas.
Páro
pergunto(-me).

Desvendo o caminho
d e d o ..a.. d e d o .

Cada vez menos solidão
menos peso
menos dor
mais ar
menos
medo


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sábado, junho 23, 2007

Essa lagoa


Não fica em lado nenhum.
Melhor: mora em nós.
Bebo-lhe o azul de memória
recordo-a como se fosse uma história
e regresso lá
sempre que quero
de olhos fechados
num voo súbito
de quase liberdade
para matar
só um bocadinho
(bem ao de leve)
esse desejo
essa saudade.



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quinta-feira, junho 14, 2007

Medo(s)

Vou-os despindo peça a peça
sacudo-os sem pena
deixo-os pelo caminho
desarrumados
atrás de mim
assim
como se não fossem mais precisos
e vou andando
cada vez mais leve
pés no ar
(ah como é bom!)
acreditando
ao perdê-los
um a um
que, lá no chão,
já nem sequer tu, dragão,
depois de despidos
me vestes nenhum.

.


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segunda-feira, junho 11, 2007

Inclinação

Deu-me uma saudade
assim de repente
de torre inclinada
castelo no ar
de coisa sem jeito
daquelas que não
hão-de acontecer
de história que nunca
ninguém vai contar
de nuvem, cavalo
azul e veneza
de passado algum
de outro presente
futuro sem ser
só pelo prazer
de dizer que sim
que tenho saudade
de qualquer coisa
estrada paralela
que não é para mim
só para eu sonhar.

Anda, vem comigo.
Finge que é verdade
esta inclinação
e na torre que quer
cair mas não cai
bem longe do chão
tira-me uma foto
só para provar
que esta saudade
que hoje me deu
é fantasia
muito verdadeira
(quase até real)
a morar no céu.



quinta-feira, junho 07, 2007

Os sonhos podem tudo?


Desejava, porque desejava
ser princesa, rainha, até fada
bela, sereia, ave, heroína
salvar, ser salva, ser amada.
Não me lembro nunca de ter desejado
ser bruxa, vilã,
dragão, (dragã?)
monstro, pesadelo
carrasco, madrasta.

Estou aqui a sentir a solidão
dos não sonhados
mesmo sabendo que
(olhando o mundo)
alguém se distraíu
e às vezes os imaginou
imaginou, imaginou, imaginou
até poderem ser tocados.

Prometo desejar hoje
ser todos aqueles
que nunca sonhei.
E, quando os chegar a ser,
deixá-los lindos, puros
perfeitos
corrigidos
emendados
com outro sonho
que sonharei.

Os sonhos podem tudo.
E na palavra tudo
não cabe a palavra quase.

(Ou quase não cabe...)




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sábado, maio 26, 2007

Distância dos pés

Não te assustes, Lua
são os meus olhos
são os meus sonhos
são os meus caminhos
a ver se descobrem
como é que tu és
em certos dias
a querer distância
a querer fugir
deixar para trás
os pesados pés.

segunda-feira, maio 07, 2007

Eu, ou eu?

Espelho meu, espelho meu
qual delas é a mais verdadeira
a mais real?
A que vive?
A que sonha (voa)?
Eu ou eu?

Entre as duas não existe "ou"
só um "e"
e um só tu
ele sussurrou.



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sábado, maio 05, 2007

Gato preto em quarto escuro


Gato preto em quarto escuro.
Gato branco em quarto claro.
Diz-me se, pelo menos,
consegues ver os meus olhos.
Diz-me.
Garante-me que, mesmo invisível,
ocupo este espaço aqui
e o resto
sobeja
para quem o queira habitar.

Repete para eu ter a certeza
de que olhei para mim
e me vi
(mesmo que mais ninguém me veja
quando me está a olhar.)




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Black Cat in Dark Room

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domingo, abril 29, 2007

É verdade...




Com o sonho e a fantasia arrumados no bolso certo do coração, mordes o impossível e sentes o sabor dele na boca.
E nunca pensas: se ao menos fosse verdade...
porque sabes que quando pensas já (o) é.

Agarra-te agora por um bocadinho a esse pensamento súbito que ilumina.
A esse desejo. A esse beijo.
A esse abraço.
(Depois regressa sorrindo às horas certas e simples e mansas e sem sobressalto do dia.)







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quarta-feira, abril 04, 2007

Quadro negro? Não.

Não.
Quadro negro, não.
Pinto com cores
suaves, eu sei
ainda assim
cores.
Também desenho umas flores
imagino um céu
às vezes cinzento, sei
chove
ainda assim
céu.
E uso, por vezes,
lápis de carvão
esbato as sombras com os dedos
(os dedos podem ser luz)

Quadro negro?
Não.





Malevich - Black Square www.vladstudio.com

quarta-feira, março 21, 2007

Maior

Escuta:
não sei se é flor ou palavra o que cresceu aqui.
O que aqui se escreveu.

Mora agora em mim.
(e é maior do que eu.)


domingo, março 11, 2007

Onde?

Já perdi a conta aos dias
olhando
a ver se havia uma luz
e nela um caminho
e neste um ninho.
Às vezes
parecia...


Mas não havia.
Não há.

Percebi
assim
que
sou
eu
o

caminho
ninho
farol de mim.

.

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quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Palavra-chave?


Olho para mim
aqui
com uma palavra-chave
na mão
a ver se
com ela

caibo em algum lado
tropeço em alguma resposta
mergulho em algum segredo
desvendo algum caminho.

Mas (ainda) não.

.

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quinta-feira, fevereiro 22, 2007

(Des)Protegida

Há nas coisas boas e nas más
o mesmo (in)esperado
doce, amargo, assim assim.
.
Mora nome (im)possível
num chapéu de chuva
que chegue
a todo o lado
importante
de mim.

Deixo-me molhar
e seco-me devagar
aqueço-me
com persistência
apenas quando é preciso
(quando na água encontro dor
ou tristeza).

Acho que sei
escutei
descobri
que estar vivo é assim
uma espécie de coisa
de que só
com frio e calor
tenho a certeza.


segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Há uma porta
em cada castelo velho e abafado
que é uma janela.
Há uma janela
em cada castelo velho e escuro
que é uma luz.
Há uma luz
em cada castelo velho e húmido
que é uma lareira.
Há uma lareira
em cada castelo velho e frio
que é uma chama.
Há uma chama
em cada castelo velho e cansado
que é coração.
Há.
Eu sei.
Não é sequer uma fantasia
aquilo que digo.
Olho para ti e não vejo o que estou a ver
vejo apenas aquilo que queria
ter.

(E tenho
de certa forma
comigo.)


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quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Do Amor...

Digo do aroma
do sabor
de um certo incómodo
uma
certa dor

um certo prazer
um certo rubor
alguma alegria
apetite ou azia
sonho,
saudade

encanto ou tremor.
Digo porque sei
que ninguém sabe
exactamente
com rigor
e porque não vê
não crê.

Digo do efeito
da consequência.
Do correr
do calor
do suspirar
da flor
do ritmo
da lágrima
e da pausa.
Digo porque digo
do feitiço
do encanto
labor
caminho
jardim
pedras
espinho
pranto
sorriso
sede
fome
movimento
preciso.
Eu digo
mesmo invisível
da existência.
Há prova.
E a prova
sentida
na pele
cala
as dúvidas
de
qualquer
ciência.




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domingo, fevereiro 04, 2007

Sonhos em dia


Escuto-me
nesse tempo
secreto e meu
a sós comigo

ponho-me sonhos em dia
arrumo-me as prateleiras
e lembro-me de me lembrar
sem direito a distracção
de ouvir o que me digo.




Rita Oliveira Dias
http://geladodegroselha.blogspot.com/2006/09/comear-o-primeiro-sono.html


quarta-feira, janeiro 31, 2007

Sou nuvens


Há uma nuvem que sou eu
(deve haver mais, mas não digo)
nasceu dos sonhos que embalo,
dos desejos de azul
dos pensamentos que trago
ao peito sempre comigo.

Há uma nuvem que sou eu
(há muitas mais, são segredo)
nasceu e fugiu de mim
não me deixou para trás
levou-me no colo dela
e deixou no chão o medo.

.



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domingo, janeiro 28, 2007

Acordar...

abrir os olhos?
luz?
visita do Sol?
pintar de azul claro a noite?
sacudir dos ombros as estrelas?
até breve de Lua?
recomeçar?

Ver pela primeira vez
espanto
saber
e saber que se sabe
o que se sabe
e que ainda se busca resposta
para tantos porquês.



domingo, janeiro 07, 2007

Sombra inteira



Sonhei à beira de um espelho
e ele foi-se embora
fez-se à estrada
em busca de norte
com a outra que também sou.

Agora
no sul a que pertenço
acordo todos os dias assim:

sombra inteira de metade de mim.