sábado, abril 26, 2008

Pinturas...

Gosto de ir mudando a cor das minhas asas.
Uso tinta ecológica
que desaparece
se dilui em água
e me escapa
sem eu prever
desculpando-me
por cada poema novo
nova combinação de palavras
com alteração meteorológica

que ponha o céu
a chover.

Sim. Eu sei.
Hoje não choveu. Não tenho desculpa.
Mas gosto de sentir que o destino
é coisa que se pinta como se deseja
em tela que é sempre a mesma
parede de todas as casas
mesmo que à vista as cores pareçam iguais
mesmo que ninguém perceba
mesmo que ninguém (te) veja
repintando as minhas asas.


um verde na lua

Podem não acreditar
porque é um segredo
e os segredos
não deviam ser
para partilhar...

Podem não acreditar
mas está lá que eu sei
mesmo que os astronautas digam que não
e os cientistas não digam que sim
é que eles não olharam bem
escolheram mal o que sonhar
olharam para outros lados
olhos fechados
confiem em mim
tem água a correr
frescura de bosque
aves voando
pirilampos quentes
fogo no ar...

Se um dia forem para aqueles lados
e tudo vos parecer escuro
procurem
por dentro

bem disfarçado
um botão secreto
(onde foi que o puz?)
acende sem medo
deixa iluminado
esse segredo
recanto perdido
jardim escondido
essa verde luz...

segunda-feira, abril 21, 2008

Espelho



Eu vejo tantas coisas
quando olho para ti...

Que coisas?

Vejo tantas estradas
tantos caminhos
tantos fios
fumos, nevoeiros
densos e leves
labirintos breves
entradas, saídas
ruas
viagens
paragens

mãos
minhas
tuas.

Eu vejo

vejo tão bem
verde a despontar no azul
azul cobrindo o vermelho
quando olho para ti
e sorris o meu sorriso

vestes o meu corpo
do outro lado do espelho.



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terça-feira, abril 15, 2008

Olhar pescador

Quando de repente alguém pára
repara
olha
deixamos de ser
só mais um
para passarmos a ser
o ...

Algum cuidado
alguma ternura
alguma atenção
e
mesmo sabendo nadar
corremos sempre o risco
de nos perdermos
de nos afogarmos
de nos morrermos
nesse
intenso
pescador
olhar.


domingo, abril 13, 2008

Distâncias de nada

Há distâncias que são nada
coisa alguma.
Fios invisíveis
prendem a Terra à Lua
entre si os planetas
estes às estrelas.
Portanto
não é magia:
tu não estás
e, todavia,
dás-me a mão
beijas-me
e eu consigo vê-las...


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quinta-feira, abril 10, 2008

Tens a certeza?

Um dragão?
Não.
Um vulcão?
Não.
De certeza?
Sim.

Um cordeirinho, montanha verde
pedacinho de neve, nuvem, algodão
suave, leve, flor flutuando

Um dragão?
Já disse que não.
Um vulcão?
Já disse que não!

Tens a certeza?
É que vejo ali
uma fresta de luz
calor a escapar
pequenina chama
brilho mal escondido...

Não vês nada!

(Vou a correr
buscar balde d’água
regresso com pressa
figura apagada.)


terça-feira, abril 08, 2008

Sons com asas

Não, não está presa a lado nenhum
a música que escuto
quando uma ave me canta
pela manhã
sem pressa
pousada
aninhada
nos meus ouvidos.

É um segredo nosso:
há sons com asas
há asas com cheiros
cheiros com sabores
sabores com dedos
dedos com olhos
que ficam escondidos.


sábado, abril 05, 2008

O sonho é meu...

Quero, porque quero
que sejas só minha
levo-te comigo
p'ra outro lugar.

Tanto me faz
(nem quero saber)
que o mundo reclame
falta de luar
o sonho é meu
fui eu que o sonhei
e nele a lua fica
exactamente onde
eu decidir
que ela vai ficar.



quinta-feira, abril 03, 2008

da Terra ao sonho


dizes:

vai só um passinho
da Terra ao sonho

vai só um passinho
da Terra ao luar

se ficares quieta
se não caminhares
não acredites
que se desprende
cai na tua mão
ou te vem buscar

vai só um passinho
da Terra ao sonho

vai só um passinho
da Terra ao luar

(corto estes fios
desato estes nós
sacudo o que pesa
descubro umas asas
embarco em ti
e vou viajar...)

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