três poemas para uma ilustração de Miguel Horta

1

sempre assim

espera(nça) inquieta

doída desassossegada

pela outra quase nada

que voa em mim

sempre

assim

 

2

e se

fosse mesmo isto

a (triste) casa:

ficar ficar ficar

sem sonho

sem desejo

nem desassossego

nem asa?

3

há na saudade

um não sei quê

de laranja

começo

fim de dia

desencontro

lágrima

fado

poesia

Miguel Horta - Ilustração
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sem eu

é onde moro agora
num lugar azul
sem nome
morada
luz apagada
metade vazio
sonho de sereia
cavalo baleia
sem mar
nem céu
sem eu
sem nada

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perfume secreto

os dedos todos
as cores perfume
secreto
os sabores
biscoito quente
mel misturado
erva-doce e canela
levando lua fria
trazendo sol dia
sem sombra de janela
eu sem saber
que sabor abraço
longe este
e quase
fada sua
palavra_chave
música
canção
abrindo
quase quase
um deslizar
muito tão devagar
pintura
na pele papel
arranhado
arrepio
sem ter sido
convidado

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não mais

agora nunca mais apago a luz
não me vou mais embora
nem me deixo dormir
pode ser um sonho
podes não ser
de verdade
e depois
à noite
fugir

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Como não se esquece?

como não se
esquece
apaga
um amor?
ficamos
nunca
distante
nunca
sem
rasto
nunca
gasto
sem
sinal
de
terra
água
sol
flor

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e se?

onde a flor?
onde o mel?
onde o néctar?
onde o doce
que sonhei
que pedi?
e se
afinal
fundo
apenas
no mais
profundo
sonho
azul
de
ti?

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